quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Aquecimento global


Aquecimento global



Caos no Clima

O mundo está boquiaberto com a confirmação de que o planeta vem aquecendo e de que a tendência é piorar. O Ministério do Meio Ambiente anunciou dados específicos para o Brasil. O resultado também é quente: a temperatura por aqui deve aumentar em média 4ºC até o fim do século.
Hoje, a temperatura média brasileira é de 25°C. Se as emissões de gases do efeito estufa diminuírem, a média subirá para 26°C. Se as emissões continuarem aumentando, vai ficar em "esturricantes" 28,9°C. Como média nacional, é muito, muito quente.

Uma prova de que o efeito estufa já se faz sentir por aqui é a análise de dois pontos paulistas: um na cidade de São Paulo e outro em Campinas. Os cientistas verificaram que, em 50 anos, a freqüência de noites quentes passou de 5% para 35%.
O frio, por sua vez, ficou mais raro. Na década de 70, em 30% dos dias era preciso usar casaco. Agora, agasalho só em 10% dos dias.
CO2, seqüestro de carbono, efeito estufa, temperatura no ano de 2100. Não está dando para entender direito? Talvez as explicações que você procura estejam aqui.





• Pergunta número 1: Por que plantar árvores reduz o efeito estufa?
"As plantas fazem dois processos. Um processo é a fotossíntese, ou seja, ela converte o CO2 usando a luz do sol, reage com a água e forma carboidratos, glicose e libera oxigênio. À noite, as plantas respiram, liberam o mesmo gás, o gás carbônico, responsável pelo aquecimento global, que a gente também libera na respiração e que as indústrias liberam também. Na conta total entre o que elas absorvem e o que elas emitem de CO2, elas são capazes, sim, de absorver uma grande quantidade de CO2. As plantas mais jovens têm a tendência de absorver mais, mas as plantas maduras, mais antigas, continuam absorvendo CO2. A Floresta Amazônica, anteriormente tida como um balanço zero de absorção de CO2, é capaz de absorver cerca de duas toneladas de carbono por hectare, por ano. Significa que ela é ainda capaz de absorver uma quantidade muito grande de CO2", explica Jussara Lopes de Miranda, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

• E só plantar árvores resolve o efeito estufa?
Não, porque não haveria espaço para plantar a quantidade de árvores necessárias para neutralizar as emissões de CO2. É por isso que os cientistas tentam inventar tecnologias diferentes. No litoral da Noruega, por exemplo, foi montado um trambolho capaz de enterrar o gás carbônico comprimido no fundo do mar.

• Agora, se a meteorologia às vezes erra para o dia seguinte, dá para confiar em previsão para cem anos?
"A previsão de cem anos não tem um grau de confiabilidade de 90%, mas ela indica uma tendência geral. Dá para confiar, mas é lógico que não temos capacidade de prever que daqui a cem anos vai acontecer um determinado fenômeno num determinado dia. A previsão tanto do tempo, quanto ao clima, a longo prazo é uma previsão matemática", esclarece Carlos Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

• Ainda é possível evitar o cenário trágico do aquecimento global?
"Nossas ações dos próximos cinco, dez ou quinze anos serão fundamentais para a segunda metade deste século. Nessa primeira metade de século já estamos condenados. Neste momento, estamos correndo contra o tempo para lidar com a segunda metade deste século", diz Roberto Schaeffer, pesquisador da Coppe-UFRJ.

• Os cientistas prevêem que o mar vai subir um metro. Quanto é isso?
"Uma elevação do nível do mar de um metro representaria, em termos horizontais, aproximadamente o limite da faixa varrida pela onda na maré cheia. A linha de costa mudaria de lugar", explica Dieter Muehe, professor da UFRJ.

Como o calor vai afetar o Brasil

Não se passa uma semana sem que surjam evidências dos efeitos desastrosos do aquecimento global. Caso não se diminua as emissões de gases tóxicos que aumentam o efeito estufa, dizem as previsões, as catástrofes se tornarão cada vez mais freqüentes e devastadoras. Agora, pela primeira vez, será possível saber qual será o impacto específico do aquecimento global nas diversas regiões do Brasil. Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) apresentam as previsões climáticas para o país até o ano de 2100, resultado de um estudo bancado pelos governos brasileiro e inglês. As notícias não são animadoras. Ao longo do século a temperatura média no país poderá aumentar até 4 graus, com efeitos desastrosos para a agricultura, a pecuária e a biodiversidade de várias regiões. No caso da Amazônia, onde vivem e se reproduzem mais de metade das espécies biológicas do planeta, as previsões são particularmente sombrias. O aumento da temperatura pode chegar a 8 graus, transformando nacos da floresta tropical em cerrado. Dezenas de espécies podem desaparecer no Pantanal Mato-Grossense. O aumento do nível do oceano Atlântico pode destruir construções à beira-mar no Rio de Janeiro, no Recife e em Salvador.

O relatório sobre o clima brasileiro oferece dois tipos de cenário para o futuro, um mais pessimista e outro menos pessimista. No primeiro cenário, considera-se que a atividade humana no planeta continuará a lançar quantidades crescentes de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, agravando o aquecimento global. O segundo leva em conta que o esforço conjunto dos países para diminuir a emissão de CO2 nas próximas décadas será bem sucedido. Em ambos os cenários, as conseqüências provocadas pelo efeito estufa no Brasil serão as mesmas, o que muda é a intensidade com que os desastres se abaterão sobre o país. Para elaborar o relatório, os pesquisadores usaram uma metodologia semelhante à do Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC) das Nações Unidas, divulgado no início de 2007, recheado de previsões pessimistas em escala global. Programas de computador transformam os fenômenos naturais em equações matemáticas, avaliando dados como variações de temperatura, ventos e regime de chuvas. Cruzando-se as equações, é possível antecipar como o clima de uma região se comportará no futuro. Esse modelo de pesquisa permite também que se anteveja como as transformações numa região podem afetar outra. Se o aquecimento da Amazônia se confirmar, por exemplo, o calor provocará períodos de estiagem no Sudeste e no Sul do país. Ao cruzar as equações climáticas, o estudo do INPE mostra que o aquecimento da atmosfera afetará o nível de açudes e rios, o que pode comprometer a produção de energia e as obras de infra-estrutura.
A transposição das águas do Rio São Francisco, por exemplo, uma das bandeiras do governo Lula pode ficar comprometida em poucas décadas. “Fazer uma obra desse tipo sem considerar as futuras mudanças climáticas é perigoso, pois parte da água pode desaparecer com o aumento da temperatura e com a redução das chuvas”, diz José Antonio Marengo, pesquisador do INPE e coordenador do estudo. As previsões do relatório contemplam também o impacto do aquecimento global na saúde da população brasileira. Num país mais quente, insetos que transmitem doenças encontram um ambiente mais favorável para a sua reprodução. Por isso, aposta-se que as alterações climáticas aumentem o risco de incidência de malária, dengue e febre amarela. A redução das chuvas e uma atmosfera mais quente e seca provocarão mais incêndios em florestas da Amazônia e do Cerrado, o que aumentará a ocorrência de doenças respiratórias provocadas pela fumaça. Diante desse quadro, o que podem os brasileiros fazer? Exigir que o governo se preocupe com o assunto e procure soluções para amenizar os efeitos do aquecimento global no país.



O cenário para cada região do Brasil

Região Centro-Oeste
Aumento da temperatura: de 2 a 6 graus.
Conseqüências: as chuvas se concentrarão em períodos curtos de tempo, entremeados de secas prolongadas. A erosão do solo prejudicará a agricultura e a biodiversidade. O cultivo de café se tornará inviável em Goiás.

Região Sul
Aumento da temperatura: de 1 a 4 graus.
Aumento das chuvas: de 5% a 10%.
Conseqüências: os dias ficarão mais quentes e os invernos serão mais curtos. Chuvas intensas, mas irregulares, provocarão colapso da agricultura e perda de produtividade na pecuária. No Rio Grande do Sul o plantio de trigo e soja se tornará inviável. No Paraná, se a temperatura subir mais de 3 graus, a área propícia ao cultivo de soja poderá ser reduzida em 78%.

Região Norte
Aumento da temperatura: de 3 a 8 graus.
Redução das chuvas: de 5% a 20%.
Conseqüências: com menos chuva e temperaturas mais quentes, parte da floresta Amazônica se transformará em cerrado. O fluxo de umidade que ocorre regularmente da Amazônia para o Sul e o Sudeste ficará irregular, colaborando para a ocorrência de secas nessas duas regiões. A redução das chuvas alterará a vazão dos rios, causando a morte de peixes e comprometendo a produção das usinas hidrelétricas e o transporte fluvial.

Região Nordeste
Aumento de temperatura: de 1 a 4 graus.
Redução das chuvas: de 15% a 20%.
Conseqüências: chuvas mais fracas reduzirão o volume dos rios e açudes e diminuirão a biodiversidade da caatinga. O atual clima semi-árido da região passará a árido. 70% das cidades com população acima de 5.000 habitantes enfrentarão graves crises no abastecimento de água.

Região Sudeste
Aumento da temperatura: de 2 a 6 graus.
Chuvas mais fortes e secas mais severas.
Conseqüência: a área propícia ao cultivo de café em São Paulo se reduzirá de 39% do território do estado para cerca de 1%. Fenômeno semelhante ocorrerá em Minas Gerais. O aumento no nível do Oceano Atlântico ameaçará construções à beira-mar no Rio de Janeiro.

Créditos:

Caos no clima - Matéria divulgada pelo Fantástico do dia 04 de março de 2007.
Como o calor vai afetar o Brasil - Matéria extraída da Revista Veja, edição de 28 de fevereiro de 2007.

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