quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

O JUÍZO COMEÇA PELA CASA DE DEUS !

A humildade é o cinto que firma a roupa de santidade do cristão, e traz consigo inúmeras bênçãos
“Já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho de Deus?” (I Pe 4:17).
A primeira epístola de Pedro tem elevado teor profético (Cf 1:5,7,13; 2:12; 4:7,13; 5:1,4). Ele era preocupado com a iminente volta de Cristo e o estado em que Jesus encontraria a igreja quando retornasse. Em geral, os cristãos já sabiam do juízo que haveria de vir sobre o mundo; mas poucos sabiam do juízo que viria sobre a própria igreja! O mundo tem aversão à verdade absoluta da bíblia e aos seus elevados princípios morais e espirituais. O mundano vive segundo princípios e valores passionais, cujo comportamento resulta naquilo que Pedro chama de “dissoluções, concupiscências, borrachices, glutonarias, bebedices e abomináveis idolatrias” (4:3). O trágico é que hoje toda forma de comportamento reprovável já não é mais monopólio do mundo; a igreja evangélica também tem sido afetada. Mas Deus não condenará a igreja junto com o mundo; antes da volta de Jesus a igreja haverá de ser purificada de todo esse mal. Esse é o propósito de Deus em enviar Seu juízo sobre a igreja. Segundo podemos depreender dos escritos de Pedro, esse processo transcorrerá em três dimensões.
1. Em primeiro lugar, a igreja evangélica passará (ou já está passando) por um retorno aos princípios bíblicos. Por isso Pedro enfatiza a importância do Evangelho (3:18 – 4:6), ressaltando até a maneira como o evangelho chegou aos mortos! A reforma de Lutero foi apenas o ponto de partida de um processo contínuo que se estenderá até o arrebatamento, pois a igreja que vai se encontrar com Jesus é uma igreja integralmente bíblica. Esse é o primeiro passo, mais importante que ufanismos ou ativismos. Hoje, mais do que nunca, é preciso de vozes ecoando o sermão “Apascentando ovelhas ou entretendo bodes”, de Charles H. Spurgeon. A mensagem precisa voltar a ser bíblica, assim como o ministério e a liturgia. Precisamos distinguir quando igrejas mergulham nos padrões mundanos, para identificarmos os santos e os profanos.
2. A segunda dimensão é a atenção à profecia (4:7). Muitos crentes sabem tudo sobre doutrinas reformadas ou dons espirituais, mas não conhecem, por exemplo, o que a bíblia diz sobre Israel no fim dos tempos. O básico é que cada igreja ensine aos seus membros a posição pré-milenista e pré-tribulacionista da escatologia bíblica. Outras questões são secundárias (haverá salvação após o arrebatamento? Quem povoará o milênio?, etc...), mas a doutrina do arrebatamento iminente é essencial. Que noivo gostaria de casar com uma noiva mais interessada em caprichos individuais do que em seu próprio casamento? Jesus também quer encontrar uma noiva que anseia ardentemente encontrá-Lo. Pedro fornece as características de uma congregação que atenta para a profecia (4:8-10): há amor mútuo, que leva pecadores a abandonarem seu estilo de vida e assumirem uma forma de vida agradável a Deus; há hospitalidade, fazendo da intimidade entre os irmãos a sua grande alegria; e há desejo de uns servirem aos outros.
3. Mas a igreja precisa de uma terceira dimensão: a valorização da disciplina. Pedro fala do fogo ardente que prova (4:12). O fogo purifica. A igreja que vai subir precisa estar purificada. Algumas igrejas têm sido contaminadas com a mentalidade mundana. Alguns ministros são indolentes e preferem ver o estrago na igreja do que perder sua popularidade. Até baseiam suas mensagens na bíblia, e também falam muito sobre a profecia e os tempos finais, mas silenciam ante o caos moral e espiritual dentro de suas congregações. A igreja fiel tem uma beleza só, que é revelada através do Espírito Santo e das escrituras sagradas. Igrejas que valorizam a disciplina bíblica, imparcial e equilibrada serão honradas!
As três dimensões acima caracterizam a perfeição da igreja como noiva de Cristo: o padrão bíblico dá vida e saúde à igreja; a valorização da profecia dá a beleza interior da igreja, que anseia por seu Amado; e a intensificação da disciplina eclesiástica dá a sua beleza exterior, que também serve de testemunho aos mundanos. Pedro nos fornece dois pontos de referência para verificarmos em que estado nossas congregações se encontram.
1º - OS MINISTROS (5:1-4). Pastor é diferente do ditador, que personaliza tudo e julga-se patrão da vida de todos; e também se distingue dos indolentes, que largam suas congregações ao “laissez-faire”, à desordem e à anarquia. No Brasil, os ditadores são típicos de regiões do interior, onde é fácil manipular as pessoas; e os indolentes são típicos de regiões litorâneas ou de alguns centros urbanos, onde é fácil serem manipulados pelo grupo que dirigem! Pedro caracteriza os líderes de igrejas comprometidas com o Senhor:
1. Espontaneidade. O ditador constrange as pessoas, passa por cima da autoridade dos pais sobre os filhos ou dos maridos sobre esposas; suas ações estúpidas e ignorantes ferem a imagem do Deus santo —um “ditador” quase dividiu uma família porque não concordava com um casamento (ainda que os pais dos noivos abençoassem a união). Os indolentes envergonham o evangelho porque não vêem as complexidades inerentes ao mundo espiritual: existem “bodes” dentro das igrejas exercendo funções importantes sob o aplauso de pastores, que fecham os olhos para o que é evidente, enquanto o ditador faz a congregação crer que ele enxerga além da realidade. O pastor de verdade tem visão completa, e suas palavras são como maçãs de ouro em bandejas de prata!
2. Boa vontade. O ditador é ganancioso; quer ser o herói da congregação; “Eu” é seu pronome favorito; quanto mais poder e quanto mais as pessoas se dobrarem ante seus caprichos espirituais, mais seu ego se satisfaz. Já o indolente faz a obra de Deus com indiferença, como o rei Saul que atendia a voz do povo ao invés de atender à voz de Deus —membros de uma igreja praticaram vandalismo nas ruas da cidade e não sofreram nenhuma espécie de disciplina, pois estavam bem protegidos sob a amizade do pastor! O ditador ganha popularidade pela intolerância; e o indolente, pela indiferença. O pastor de verdade paga um preço pela santidade da igreja, sem deixar que o seu coração determine as decisões fundamentais à congregação.
3. Exemplo. O ditador personaliza; quer todos falando, sorrindo e pregando como ele; seus atos lembram a mistificação de ditadores de regimes totalitários. Já o indolente teme que a congregação não possa mais contar com ele no que se refere à conivência —um jovem confidenciou: “os pastores que mais gosto são o Fulano e o Beltrano, pois são os mais liberais!” Cristãos corrompidos são apaixonados por pastores coniventes com seus pecados. Enquanto o ditador persegue quem não cultua sua personalidade, o pastor indiferente cede aos que manipulam sua autoridade. Já o pastor verdadeiro tem um compromisso muito sério com a palavra de Deus, estimulando, pelo exemplo, a individualidade, a piedade e a santidade.
4. Ambições celestiais. Pastor verdadeiro quer a “Coroa de Glória”, quando o Senhor Jesus se manifestar. O ditador quer só a coroa, quer prêmios, uma auréola, para provar que é santo (basta lembrarmos de como os ditadores de regimes totalitários se vestiam em trajes militares cheios de condecorações!). Já o indolente quer apenas a glória; quer ficar na memória das pessoas como aquele sujeito permissivo que supostamente libertou a congregação das garras do legalismo; quer popularidade dos figos podres da igreja.
2º - OS JOVENS: O segundo ponto de referência abordado por Pedro como balizamento da condição espiritual da igreja são os jovens (5:5-10). Estamos vivendo uma fase vergonhosa para o evangelho. Há algum tempo atrás a grande preocupação era com jovens que cresciam no evangelho e depois abandonavam a igreja e os princípios bíblicos de conduta moral na vida. Hoje o problema são jovens que abandonaram completamente a santidade e continuam dentro da igreja. Por outro lado, onde os pastores são ditadores, os jovens são privados de viver uma vida dignamente bíblica, sendo sufocados pela imposição da “autoridade” eclesiástica, mesmo que tal atitude redunde em distanciamento de padrões bíblicos. Os jovens de igrejas comprometidas com o Senhor são diferentes:
1º - São submissos (5:5a). Em primeiro lugar, Pedro fala da submissão aos mais velhos. O jovem cristão é, no mínimo, educado no trato com as pessoas; a falta de reverência aos mais velhos é característica de uma sociedade desolada e moralmente caótica (Lm 5:12). O respeito também se estende às autoridades civis (2:13-17). Antigamente, jovens crentes não se embriagavam e não praticavam vandalismo. E hoje?
2º - São humildes (5:5b-7). A humildade é o cinto que firma a roupa de santidade do cristão, e traz consigo inúmeras bênçãos:
a)Através dela Deus concede sua graça para que o jovem vença os obstáculos da vida sem perder a sensibilidade diante do contexto profético e das realidades espirituais subjacentes às ações humanas.b)Humildade é estar sujeito à mão de Deus, e só Ele pode exaltar o homem. Pode inverter a posição de sua mão, e o humilde sai da posição de baixo e é posto em cima da mão de Deus. Buscar glória dos homens é o pior atalho para atingir as grandezas espirituais.c)Sob a mão de Deus, o jovem está debaixo de Seus cuidados. As amizades perniciosas não o influenciam, as ansiedades não o dominam e ele passa a rejeitar tudo o que pode comprometer a glória de Deus em sua vida.
3º - São sóbrios e vigilantes (5:8). Vigilância é preparo para a volta de Jesus, que pode acontecer a qualquer momento. A sobriedade é característica de quem vigia. Hoje falta sobriedade a muitos jovens cristãos (e no sentido menos figurado!).
O jovem assim é aperfeiçoado, firmado, fortificado e fundamentado (5:10). Pedro utiliza termos que indicam uma boa edificação (2:4-8), pois ele mesmo foi levado a entender que a vida espiritual é algo a ser edificado (Mt 16:18). Vejamos —em ordem inversa— a aplicação para o cristão:
Fundamentar – isso fala da base. Toda construção precisa ter uma base forte sobre a qual é edificada. Uma bela construção sem base é algo muito perigoso. A base da nossa vida tem que ser o Senhor Jesus, e tão somente Ele.
Fortificar – aqui temos uma figura do material utilizado na construção. No Brasil um político ficou famoso porque sua empresa construía com material de baixíssima qualidade, e os prédios caíram. Material forte simboliza o testemunho do crente.
Firmar – além de boa base e bom material, a construção precisa de uma estrutura que suporte todo o peso e não se abale ante situações emergenciais. As estruturas que estão por trás da fachada simbolizam a vida espiritual do crente e sua intimidade com Deus.
Aperfeiçoar – uma edificação precisa ter beleza, acabamento. Para isso são contratados os arquitetos e designers. Na vida espiritual, isso é papel do Espírito Santo, à medida em que nos entregamos para sermos conforme a imagem de Cristo.
A igreja fiel terá glória indizível diante de Deus. Como estar protegido nesse momento? A única solução é encomendar sua alma ao Criador (4:19). Nossa vida se passa como qualquer banalidade ou ela é uma carta enviada a Deus? Uma carta tem selo: Será que temos o Espírito Santo verdadeiramente habitando em nós?; Uma carta tem destinatário: Nossa vida tem propósito ou o nosso agir diário demonstra que estamos suspensos inutilmente no cosmo?; E uma carta tem conteúdo: O que apresentaremos ao Senhor quando nos encontrarmos com ele? O que Ele lerá de nossas vidas?

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